Flechas na escuridão está disponível na loja da Boteco Editorial (impresso) e no site da Amazon (em e-book, gratuito para assinantes do Kindle Unlimited).
Entrevista com Érika Lyrio, autora de Flechas na Escuridão
24 de julho de 2025
A Lady Killer da Boteco Editorial e as suas justiceiras armadas contra o patriarcado.

🔥 Quebrando o gelo (e talvez alguns ossos)
Boteco: Érika, você já ganhou o apelido carinhoso – ou seria ameaçador? – de Lady Killer aqui na Boteco. Por que tanta sede de sangue, mulher? Existe algum personagem seu que você se arrependeu de matar? Ou todos foram merecidos?
Érika: Eu tenho um gosto peculiar por descrever as cenas de crime. É um assunto que eu acho interessante e gosto de colocar no papel. Não posso dizer que me arrependo, senão estaria mentindo. Mas nem todos merecem, alguns só precisam. Se eu pudesse ter poupado alguém, pouparia um personagem que está no meu conto do São João Macabro.
Boteco: Vamos falar de arco e flecha. Você é praticante, certo? Quando e como essa prática entrou na sua vida? E como isso influenciou a construção de Flechas na Escuridão?
Érika: Comecei a me interessar de forma amadora, em restaurantes e feiras medievais que tinham esse tipo de interação. Atirei diversas vezes e percebi que levava jeito. Então, comecei a procurar onde praticar de verdade. E foi imprescindível para escrever Flechas. Eu não tentaria o conhecimento tão detalhado para construir os treinos da Luiza. Ajudou, e facilitou, muito.
Boteco: O título do livro é direto e potente. De onde veio a ideia para a trama?
Érika: Tudo começou com “Eu seria capaz das piores atrocidades para salvar a sua vida”, do Andre Braga que, provocador, sugeriu que eu continuasse com a história. Topei. Flechas se passa alguns anos depois dos eventos originais e Luíza, antes apenas uma menina, agora também é protagonista.
🎯 Sobre o livro Flechas na Escuridão
Boteco: Flechas na Escuridão é uma história de suspense young adult com duas justiceiras armadas contra o patriarcado. O que você pode contar (sem spoilers) sobre essas personagens e os dilemas que enfrentam?
Érika: Glória teve uma difícil, sofreu e carrega cicatrizes consigo. Com o falecimento do pai das meninas, se viu mãe e disposta a fazer de tudo para proteger as enteadas de qualquer perigo. Luiza cresceu admirando Glória, mas a adolescência e a vontade de ver a vida lá fora fez com que elas tivessem alguns atritos. Ao chegar na universidade, encontra problemas muito maiores do que poderia administrar. As duas precisam se unir, fortalecer a relação e lutar lado a lado pela queda de uma fatia do patriarcado.
Boteco: Apesar de ser YA, o livro trata de temas pesados. Como foi o equilíbrio entre o ritmo ágil do gênero e a densidade dos temas? Você teve algum desafio em dosar isso?
Érika: Seria injusto dizer que não tive ajuda. O Andre fez algumas sugestões que ajudaram muito com a densidade da história e a Ana fez uma leitura crítica impecável. Eu não queria fazer as pessoas sentirem repulsa, mas eu precisava que a história da Luiza fosse contada nua e crua.
Boteco: A justiça pelas próprias mãos, quando protagonizada por mulheres, ganha contornos diferentes na literatura. Qual foi o seu ponto de partida ético para desenvolver essa narrativa? O livro é uma fantasia, um desabafo ou um manifesto?
Érika: É um desabafo acompanhado de um manifesto. A justiça falha para as mulheres. O mundo nos coloca numa posição de inferioridade. Ninguém liga se está tudo bem, mas somos nós que temos medo todos os dias ao sair de casa. E então, Flechas se torna um pequeno manifesto pela sede de justiça e de proteção.
🩸Escrita, referências e o tal do sangue
Boteco: Você é casada com o Alvaro Rodrigues, outro autor da Boteco, e ambos escrevem terror e suspense. Como é essa convivência literária em casa? Existe troca de ideias, leitura crítica, rivalidade?
Érika: É gostoso ter alguém com quem compartilhar ideias a qualquer hora do dia. Se estamos rascunhando alguma coisa, estamos sempre falando e elaborando. Sai muita coisa boa (até mesmo Lyrial com planos futuros). Rivalidade? Flamengo é maior que o Vasco e eu sou muito boa de Mário Kart ;-)
Boteco: A gente ouviu falar que você gosta de Harry Potter, mas precisamos confirmar isso com você. Verdade ou mito? E já aproveita e conta pra gente: quais autoras e autores te influenciaram na escrita?
Érika: Eu gosto muito e, claro, faz parte da minha formação enquanto leitora. Não vamos ignorar que a autora é problemática e merecia responder por diversos crimes, mas eu passei anos do lado do trio e seria difícil ignorar que a história faz parte de quem eu sou. Quanto à inspiração, eu sempre li de tudo um pouco, então não sei mais se eu poderia dizer a fonte de onde bebi ou bebo. Mas hoje, sem rasgação de seda, eu escrevo com pessoas tão competentes, que é o time da Boteco que me inspira todo dia. Tanto a escrever, quanto à melhorar na escrita.
Boteco: Como são os seus rituais de escrita? Você escreve todo dia? Gosta do silêncio ou da bagunça? Tem alguma mania criativa que gostaria de compartilhar com a gente?
Érika: Eu escrevo a hora que dá. No trem, na hora do almoço, enquanto assisto um episódio de algum reality bobo pra distrair. Seja no celular ou no computador. Eu não sou um bom exemplo de rotina. Mas, geralmente, não gosto de escrever com muito barulho porque me distrai mais fácil. Eu não tenho nenhuma mania, eu chamaria de defeito, na verdade: tenho muita dificuldade em fazer uma escaleta ou um planejamento. Então, geralmente, a coisa só vai fluindo da cabeça pro docs.
📚 Mercado editorial e terror nacional
Boteco: Como você enxerga o atual cenário da literatura de terror e suspense no Brasil, especialmente no circuito independente e nas pequenas editoras? Está melhorando? Ainda é difícil se destacar?
Érika: Parece que, por fim, o mercado editorial vem fazendo um movimento melhor em relação ao terror/suspense. Mesmo a passos curtos e em uma bolha um pouco fechada, percebo eu estamos conseguindo alcançar maiores espaços. Ainda não é comum, nem fácil. Mas os leitores começam a nos dar mais oportunidade.
Boteco: A Boteco Editorial tem se destacado por dar voz a autoras e autores que trabalham com temáticas ousadas. O que significa pra você fazer parte desse time e publicar por uma casa como essa? Você sente que seu livro encontrou o lugar certo?
Érika: Eu não poderia me sentir mais em casa do que na Boteco Editorial. O nosso entrosamento e nossa vontade de fazer dar certo estão refletidos nas opiniões dos leitores. Meus livros estão em excelentes mãos. E eu estou entre amigos. Nossos temas ousados não são abordados de maneira leviana, e isso chega pra gente através do reconhecimento do nosso trabalho. Estamos no caminho certo, sem dúvidas.
Boteco: Existe alguma história de terror que você gostaria de escrever, mas ainda que não teve coragem ou tempo para desenvolver?
Érika: Sim, eu tenho alguns rabiscos de releituras de contos de fadas. Mas havia uma história de terror que eu queria contar há um tempo e estou trabalhando nela à quatro mãos com a Ellen Reys.
🎯 Para quem você escreve?
Boteco: Quem é a leitora ideal para Flechas na Escuridão? É um livro pra adolescentes? Pra mulheres revoltadas? Pra leitores de true crime ou pra fãs de distopias feministas?
Érika: Flechas é direcionado a qualquer pessoa que busque um suspense, mas não tenha medo de encontrar um tema pesado. Pessoalmente, eu diria a partir dos 16 anos. Embora não seja um true crime, ele dialoga com o público do gênero, causando sensações parecidas em relação à impunidade. A história das justiceiras é mostra que o mundo não é justo, mas a ficção pode ser.
Boteco: E quem você gostaria que nunca lesse seu livro?
Érika: Qualquer pessoa que trate assédio e violência contra a mulher de maneira banal, como frescura.
Boteco: Por fim, Flechas na Escuridão marca o início de um universo maior ou é uma história que se fecha em si mesma? Teremos continuação?
Érika: Acho que Flechas já mostrou ao mundo o que precisava. Começou com o Andre construindo a Glória e chegou até onde estamos agora. Não tenho planos para uma continuação, mas quem sabe a gente não esbarra com as justiceiras por aí?
🥃 Um brinde de saideira (porque Papo de Boteco é assim mesmo…)
Boteco: Se você pudesse sentar com uma de suas personagens num boteco de verdade, o que pediria pra beber e o que perguntaria pra ela?
Érika:
Eu tomaria uma cerveja com a Alessandra Lobo e perguntaria a ela qual é o maior desafio em ser uma investigadora da Polícia Civil, sendo um ambiente naturalmente machista.








